Depois de mais de um mês de ausência, volto a postar algo aqui no blog. Gostaria de ser mais assíduo, mas anda um pouco difícil. De qualquer forma, aos amigos, mais um pouco do que penso e do que gosto.
O Grande Chaplin
"Longa é a tarde, longa é a vida. De tristes flores, longa ferida. Longa é a dor do pecador, querida." Estes versos são da música Querida, de Tom Jobim. Foi com ela que tive contato pela primeira vez com uma cena que nunca mais esqueceria. Era um homem pequeno, de bigodinho ridículo no rosto, brincando com um enorme globo terrestre. Era Charles Chaplin em uma tomada clássica do filme O Grande Ditador. Tinha 14 anos. Vi aquela cena, com aquela trilha sonora, porque as duas estavam juntas na abertura de uma novela, O Dono do Mundo, da Rede Globo.
Jeito mais "indústria cultural" de tomar conhecimento de um gênio, não? Mas, neste caso, o meio pouco importa. O que valeu mesmo, pelo menos para mim, foi ver Chaplin em uma das mais belas críticas ao ditatorialismo já imaginadas.
Das trivialidades podem vir as maiores revelações. É o inesperado que muda referências, que ensina. Aquele inesperado me ensinou a admirar o homem que talvez tenha sido o maior entre os maiores do cinema. E dali conheci O Grande Ditador, obra-prima com cenas como a que Chaplin, num arremedo maravilhoso de Hitler, disputa em altivez em uma cadeira de barbeiro com o não menos satírico Mussolini. Há também aquela do discurso final, pacifista, que Chaplin teria incluído de última hora, deixando o tom predominantemente cômico da fita e passando a falar muito sério, já com as primeiras informações confiáveis das atrocidades nazistas em seus ouvidos.
A seqüência que mais marca, porém, é mesmo a de Chaplin bailando com a humanidade. Algo tão simples, até um pouquinho patético, e com uma simbologia tão assustadora. É a abdicação da obviedade, é o passo de dança que define os destinos do mundo. Quanta representatividade em uma cena que parece tão simples, picaresca até. É o cinema em estado puro, uma das formas mais eficientes de se passar uma mensagem, defender uma idéia, representar a vida no universo da fantasia.
E Chaplin fez isso tantas e tantas vezes... Nas engrenagens amalucadas, engolidoras de gente de Tempos Modernos; no bater de dentes de A Corrida do Ouro; nas ternas trapaças de O Garoto. São filmes que não posso adjetivar adequadamente. Seria injusto com produções tão ricas em sentido, tão cheias de possibilidades. Prefiro ficar com minha admiração, altamente impressionista, por O Grande Ditador. Vou me ater a um Hitler genérico correndo pelos telhados e um Hitler de pastiche com os trejeitos de um Napoleão do século 20. Um trabalho original até para os modelos de hoje, quando continuam sendo poucos aqueles que conseguem encontrar de fato uma linguagem própria, que conquistam a vitória de encantar com o gesto mais trivial, o ato mais simples e humano.
Chaplin já se foi há 30 anos. Podemos voltar a Tom Jobim: "O dia passa e eu nessa lida. Longa é a arte, tão breve a vida."
2 comentários:
Eu te dei um dvd do chapliiiiiiin! :)
que bom que você voltou.
meu irmão mais velho sempre adorou o chaplin. tinha uns quadros lá em casa com imagens e frases dele...
abç!
Postar um comentário