segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Resumão - 2009

Ano de fortíssimas emoções, boas e ruins.

Família
Esperança
Amigos
Provas
Livro (o meu)
Livros (os dos outros)
Tese
Autógrafos
Saudades
Solidão
Presença
Sobrinhos
Pai
Susto
Mãe
Avô
Choro
Hospital
Aula
Viagem
Amazônia
Chapada
Cachoeira
Rio
Desafio
Paciência
Decepção
Tristeza
Alegria
Arroz (aprendi a fazer!)
Coleguismo
Inveja
Sonho
Realização
Flamengo
Hexacampeão
Torcida
Euforia
Elogios
Vida
Saúde
Doença
Emagrecimento
Endocrinologista
Medo
Nódulos
Força
Vida

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Pelos Caminhos da Reportagem




Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Lutar quando a regra é vender

Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão

É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz

E amanhã, se este chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu
Delirar e morrer de paixão

E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão


Lançamento do livro: Caminhos da Reportagem - O Jornalismo e Seus Bastidores
Autores: Deire Assis, Rogério Borges e Vinicius Jorge Sassine
Data: Dia 16 (quarta-feira), às 20h
Local: Renauto Sul (Praça Nova Suíça, Setor Nova Suíça)
Preço: R$ 35

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tenho pensado que...

Tenho pensado que... não quero chegar aos 95 anos de idade.

Tenho pensado que... sinto muita falta de alguns amigos.

Tenho pensado que... me faltam algumas ambições.

Tenho pensado que... estar magro é melhor que estar gordo.

Tenho pensado que... morar sozinho é, de fato, ter outra vida.

Tenho pensado que... um convite feito, mesmo que não não se possa aceitá-lo, continua a ser um convite feito, uma inclusão.

Tenho pensado que... um convite que não é feito, mesmo que já se espere que ele não venha, continua a ser um convite não feito, uma exclusão.

Tenho pensado que... nunca amadurecemos o suficiente.

Tenho pensado que... quando o touro é seu, o melhor é pegá-lo, você mesmo, pelo chifre.

Tenho pensado que... há tantos lugares que gostaria de ir logo, antes que seja tarde.

Tenho pensado que... meus sobrinhos estão espertos demais.

Tenho pensado que... mais um fim de ano se aproxima e eu já não vejo graça em viver esta época, que para mim já foi tão feliz.

Tenho pensado que... hoje eu tenho defeitos que não tinha.

Tenho pensado que... sempre haverá caminhos a percorrer e reportagens a fazer.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Há como mensurar cansaços?

Havia me esquecido o que é viver um verdadeiro cansaço.

Não o mero cansaço físico, de pernas e costas doendo, de pálpebras pesadas.
Não o mero cansaço de um trabalho estressante e às vezes repetitivo.
Não o mero cansaço de prazos que se esgotam e daquela sensação que você não fez o melhor.
Não o mero cansaço de pessoas, daqueles que fatigam o espírito, corrompe suas virtudes e realçam seus defeitos.
Não o mero cansaço de si próprio, em que você já evita pensar sobre si para não se decepcionar ainda mais.
Não o mero cansaço dos problemas alheios que não há como você resolver, mas que permanecem lhe atormentando.
Não o mero cansaço que vem da insegurança, da ansiedade, da descrença.

O verdadeiro cansaço é aquele em que todos estes cansaços cotidianos, diários, até inofensivos, se juntam e se intensificam. É o cansaço que não lhe permite dormir direito, que o deixa irritadiço, que dá vida a fantasmas que pensava superados, que questiona seu presente e prognostica um futuro ruim.
Quando se cansa tanto assim, não adianta uma noite de descanso, de pouco vale um sonho prestes a se realizar. O cansaço não lhe deixa ver nada muito além dele próprio: O CANSAÇO.

Segunda-feira, uma das grandes motivações do meu cansaço será repassada a outras mãos, para que avaliem meu empenho. Meu empenho será avaliado, mas ninguém medirá meu cansaço.

Há como mensurar cansaços?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Escrever menos

Estou escrevendo menos no blog porque ando escrevendo demais em todo lugar.

Escrevo muito no jornal para ganhar meu pão, para exercitar minha vocação, para sentir um pouco mais de sentido no que faço e na vida que escolhi e que me escolheu.

Escrevo muito em casa para tentar suprir minhas deficiências de pesquisador, minha ignorância diante de tanta sabedoria, para refletir a respeito de meu ofício, para tentar dar algum tipo de contribuição menos efêmera. Não escreveria por títulos, porque neles não tenho tanta fé. Sou jornalista e sei que títulos podem ser mentirosos. Escrevo muito para não sentir que esteja fazendo parte de uma mentira assim.

Escrevo muito a toda hora porque tenho escrito mais a pessoas de quem tenho saudade, que me fazem muita falta, que quando vejo de perto, às vezes apenas uma vez por ano, dá vontade de abraçar e ficar grudado. Escrevo a eles para demonstrar meu carinho e para que não se esqueçam de que fazem parte de minha vida, em lugar especial.

Escrevo muito (agora menos, é verdade) sobre o que vejo na rua, mas que não é notícia. É apenas o trivial e o comum. Na crônica, me realizo como alguém que escreve porque sinto mais prazer nas palavras que elaboro e encadeio.

Ainda não escrevi o que quero, mas tenho feito algumas tentativas capengas neste sentido. Quem sabe, um dia, só escreverei o que desejo escrever.

Minha vontade, porém, é de escrever menos. Ao escrever menos, acredito que me sentirei envolvido em menos lutas, que estarei menos cansado para não fazer nada, para cuidar de coisas que não tenham tanta relação com a palavra. Escrever menos passou a ser uma meta.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma data


Nossa vida é dividida em datas, do dia em que nascemos ao dia em que morremos.

Neste intervalo, milhares de datas se sucedem. Dia do início do namoro, dia do casamento, dia do nascimento do filho, o aniversário dos pais e dos irmãos, o Dia das Mães, o Dia dos Pais, o Dia da Criança, o Natal, o Ano Novo, Finados, Carnaval, feriado prolongado, dia de plantão.

Somos movidos a datas.


Uma agora me surge no horizonte: 21/12

Cabalística, não?


É o dia da minha qualificação de tese de doutorado. Dia de apanhar feito um cão sarnento da banca de avaliação, dia de enfrentar as feras que sabem milhares de vezes mais que eu, dia de defender meu trabalho como se fosse um filho (mesmo que ele esteja errado), dia de ser analisado dos pés à cabeça por quem assiste à sessão pública de tortura.


Preparar o espírito para O Dia. O primeiro grande dia desta jornada de quatro anos.

Tenho agora um prazo. Pouco menos de dois meses. A vida volta a girar em torno de uma data.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dá vontade de cantar

É sempre bom ouvir os clássicos de um gênio como Tião Carreiro. Isso porque a gente sempre se identifica com alguns dos versos, com algumas das situações.
Meu momento agora é de "Navalha na Carne".
Eu, num acesso incalculável de pretensão, acredito até que a canção foi inspirada em mim.

Com tanta coisa para fazer ao mesmo tempo, com visitas a cardiologistas e riscos cardíacos elevados, dá vontade de cantar:

É muita navalha na minha carne
É muita espada pra me furar
Muitas lambadas nas minhas costas
É muita gente pra me surrar
É muita pedra no meu caminho
É muito espinho pra eu pisar
É muita paixão e muito desprezo
Não há coração que possa aguentar

Quando obstáculos inacreditáveis surgem no caminho de um projeto acalentado, dá vontade de cantar:

É muito calo na minha mão
É muita enxada pra eu puxar
É muita fera me atacando
É muita cobra pra me picar
É muito bicho de paletó
Estão de tocaia pra me pegar
A maldade é grande, Deus é maior
Abre caminho pra eu passar

Quando testam os limites da minha paciência, quando dizem coisas que não mereço ouvir, quando enchem o meu saco, dá vontade de cantar:

É muita serra pra eu subir
É muita água pra me afogar
Muito martelo pra me bater
Muito serrote pra me serrar
É muita luta pra eu sozinho
É muita conta pra eu pagar
É muito zape em cima do ás
Mas a terra treme quando eu trucar

Quando as cobranças recaem sobre o aluno e o professor ao mesmo tempo, quando a solidariedade é substituída pela agressão, dá vontade de cantar:

É muita salmoura pra eu beber
É muita fogueira pra me queimar
É muita arma me apontando
É uma grande guerra pra me matar
É muita corda no meu pescoço
É muita gente pra me enforcar
Por aí tem gente que quer meu tombo
Mas Deus é grande, não vai deixar

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Como diz o samba...

O Rio de Janeiro continua lindo

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Adedonha

A - Allan Poe (a importância da escolha em O Poço e o Pêndulo)

B - Beckett (estamos sempre esperando alguém, mesmo que seja Godot)

C - Carlos Drummond de Andrade (e a morte anônima do leiteiro)

D - Dostoiévski (Os Demônios Karamazov)

E - Ernest Hemingway (nada mais especial que O Velho e o Mar)

F - Flaubert (Madame Bovary vai além dos limites da traição)

G - Guimarães Rosa (a poesia em estado puro de prosa)

H - Henry James (assustadoramente genial em A Outra Volta do Parafuso)

I - Isabel Allende (A Casa dos Espíritos não é assombrada)

J - José Cândido de Carvalho (risos imensuráveis com Lulu Bergantin)

K - Kundera (há como sustentar a leveza do ser?)

L - Liev Tolstói (Ana Kariênina, personagem-mundo)

M - Machado de Assis (bruxarias dispensam comentários)

N - Nabokov (Fogo Pálido, chamas sempre acesas)

O - Orwell (homem de bichos e revoluções)

P - Pedro Bandeira (a leitura sagrada da adolescência)

Q - Quintana (sapatos sempre floridos em versos)

R - Rubem Fonseca (A Grande Arte, perfurante e cortante)

S - Scott Fitzgerald (Grande Gatsby!!!!!!!)

T - Truman Capote (embaralhou os gêneros, A Sangue Frio)

U - Umberto Eco (O Nome da Rosa é barroco)

V - Vargas Llosa (no fim do mundo, a guerra)

W - William Faulkner (mestre, mestre, mestre)

X - Xiran (em homenagem às bravas mulheres da China)

Y - Yasunari Kawabata (neves escaldantes)

Z - Ziraldo (velhinho maluquinho)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Gangorra


"Vivemos conjugando o tempo passado ( saudade, para os românticos)
e o tempo futuro ( esperança para os idealistas).
Uma gangorra, como vês, cheia de altos e baixos - uma gangorra emocional.
Isto acaba fundindo a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de vez o Homo sapiens.
Mais felizes os animais, que, na sua gramática imediata,
apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo.
E que nem dá tempo para suspiros... "

Mario Quintana


Queria tanto não estar nesta gangorra...
Tem jeito de sair dela?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Bispo Gargamel


Nem a Globo tem este furo de reportagem. Descobrimos a verdadeira identidade do Bispo Edir Macedo, o homem da fogueira santa de Israel.
















terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cinco anos

Tem um monte de coisas em que ainda preciso amadurecer. Muita coisa mesmo. Mas pago meus pecados devidamente, podem crer.
Uma grande amiga minha me disse dias desses que eu preciso manejar melhor meus sentimentos. É verdade. Este aprendizado, para mim, é como o de línguas estrangeiras: difícil.
Mas há outros aspectos em que me sinto mais maduro, como o de controlar a ansiedade em várias situações.
Hoje renovei meu visto para os Estados Unidos. A última vez em que havia estado na embaixada do Tio Sam foi em 2004. Cinco anos se passaram e percebi a diferença que pode significar sair dos 20 e entrar nos 30.
Estava um tantinho nervoso? Claro. Mas o nervosismo era pela fila que não andava e não por ter um sonho ameaçado. O sonho de conhecer diversos lugares a que sempre quis ir nos EUA eu já realizei: Hollywood, Grand Canyon, Havaí, Las Vegas, Golden Gate, sede da NASA e, o maior de todos, Nova York e seu Museu de História Natural, com o esqueleto do Tiranossauro Rex (sonhos de infância são sempre os mais valiosos!)
Graças a Deus, curti cada minuto em que estive em cada um destes lugares. Ir para os Estados Unidos já não é um sonho, é uma realização. Hoje, aos 32, tenho outros projetos e outros anseios que não tinha aos 27. A embaixada americana não mudou muito nestes 5 anos (os funcionários, é verdade, ficaram mais simpáticos e o prédio ficou bem menos ameaçador para mim) e não senti frio na barriga por temer ser recusado. Se o fosse, ficaria irritado e só. Nada mais. Com visto aprovado, agradeço a chance de conhecer outros lugares em que ainda quero ir (Washington, Chicago, Grandes Lagos, New Orleans), mas já mais sereno, penso.
Estas viagens foram os melhores presentes que me dei. Daqui 5 anos, quando, quem sabe, for novamente a Brasília renovar um visto, como será?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mussum


Publiquei esta crônica sobre uma das figuras mais carismáticas que já vi na TV no último domingo, dia 2 de agosto. Escrevi este texto em meia-hora, se muito, inspirado pelas lembranças dos 15 anos da morte de Mussum. Engraçado é que muita gente veio comentar comigo que havia lido a crônica, recebi diversos e-mails de leitores do jornal que não conheço e o que senti em todos foi um intenso sentimento de identificação. Recordar é mais que viver. Recordar é preciso.



Cacildis, que saudadis



Uma das cenas mais marcantes da TV de que me lembro é Didi Mocó, com uma peruca de Maria Bethânia, como aquele “cabelo você me azucrina”, como diria uma querida amiga minha, num clipe de Terezinha, de Chico Buarque. Na estrofe

“O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar”

eis que surge ele, Mussum, entrando no quarto, trocando as pernas, com uma garrafa de pinga na mão e já dando um catiripapos em Didi.

Aqueles eram os anos 80, em que o início das noites de domingo era ocupado por um humor ingênuo, pastelão, com alguns rasgos de perversidade, e não por celebridades sebentas e vazias, como hoje. Os Trapalhões faziam rir com situações simples e piadas prontas, cheias de estereótipos e com tiradas politicamente incorretas. Mas o carisma daquela turma transformava o programa em um fenômeno de audiência e alavancava a bilheteria dos filmes de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Perder um filme dos Trapalhões? Mas nem pensar, de forma alguma!
Esta semana lembramos os 15 anos da morte de um deles, talvez o mais alegre, o mais simpático, talvez até o mais engraçado de todos. Mussum era puro sorriso e com seus dentes alvos fazia rir, assim como provocava gargalhadas quando ficava nervoso e queria sair no sopapo com quem tentava passá-lo para trás.

Lembro-me perfeitamente de quando um plantão da Globo, num sábado de manhã, anunciou a morte de Mussum. Zacarias já havia partido quatro anos antes e desde então eu percebera, surpreso, que aqueles caras não eram imortais. Mussum, porém, era especial. Ele tinha ginga, tinha uma malandragem gostosa de se ver. Era um comediante com ritmo, malemolência.
Talvez o que tenha mais marcado Mussum foi a maneira genial como ele trabalhava sua cor negra no humor. Hoje tudo é ofensivo, tudo é discriminatório, as pessoas ficaram mais radicais. Mas Mussum, quando queria enganar um incauto em algum truque para ganhar uns trocados a mais, garantia: “Quero morrer pretis se eu estiver mentindo.” Ou quando alguém se referia a ele como negão ou crioulo. “Negão é seu passadis”; “Crioulo é sua véia.”

E Mussum completava, com sua cor e seu jeito, a representação brasileira que havia em Os Trapalhões. Ele era o carioca, o negro, a alegria africana que corre em nossas veias, assim como Dedé era o homem urbano e metido a sabichão, Zacarias era o homem do interior, mineirinho ingênuo, mas engenhoso, e Didi o retirante nordestino que sempre dava um nó em quem o considerava uma vítima fácil.

No quarteto, Mussum se destacava pela gargalhada rasgada, por uma espontaneidade desmedida, por seu jeito tão particular em terminar certas palavras com “is”, criando um dialeto próprio. Comediante inteligente, usou todos os recursos de que dispunha para divertir os outros. Tirou partido do samba no pé, do gosto além da conta pela bebida e até do porte físico. Bundudo, imortalizou a palavra “forébis” para se referir ao traseiro, dele e o dos outros.

Rever cenas de Os Trapalhões é cair em um certo saudosismo, não tem jeito. Como esquecer Didi e Mussum, vestidos, de Clara Nunes e Clementina de Jesus, em um clipe em que um dá rasteira no outro em uma praia enquanto cantam? Como não rir com Mussum de peruca com cabelo alisado apresentando um telejornal? Não dá. Aquilo era muito bom. Cacildis, que saudadis.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sábado

Sábado é um dia abençoado. Mais até que domingo. Domingo é um dia meio depressivo, acho, principalmente quando a tarde começa a cair. O sábado não. Ele pode trazer aquela preguiça gostosa, sem culpa. Meus últimos sábados não foram assim, sempre atarefados. Mas o sábado passado foi diferente e aí eu me lembrei o quanto gosto deste dia.

1. Acordei tarde, mais ou menos 10h30, e logo uma amiga me ligou para ir ao seu apê agendar pela internet a entrevista do visto para os EUA.

2. Formulários virtuais preenchidos, ficamos lá, com mais duas pessoas, jogando conversa fora até umas 2 da tarde, num papo gostoso, sem sombras ou insinuações.

3. Fui de carona comer um prato maravilhoso no Pinguim, tomar dois chopes pingados geladíssimos e conversar sobre de tudo um pouco. Lembramos a adolescência, falamos sobre como as pessoas são, fizemos piadas, no melhor descompromisso com a hora.

4. Lá pelas 4h30 fomos para o shopping comprar um brinquedo de presente e eu fiquei lá, apertando todos os bichos que faziam barulho que vi e até ensinei um moleque que eu não conhecia a brincar com um olho que soltava raios.

5. Um querido casal de amigos, meus afilhados de casamento, me ligou chamando para conhecer o apê novo deles e depois ir para o cinema. Fui ao apê e fiquei muito feliz pelos dois por terem conseguido comprar um imóvel tão bom e terem montado uma casa com cara de lar.

6. Fomos ao Bougainville assistir Inimigos Públicos (o filme não é muito bom não) e depois ficamos lembrando cenas de grandes filmes de gangsters, como Os Intocáveis.

7. Fomos à Pizzaria Casa São Paulo, saboreamos uma pizza maravilhosa e, de novo, jogamos mais conversa fora. Falamos sobre coisas sérias e bobagens, como sempre acontece nesses encontros.

8. Cheguei em casa à meia-noite. Não escrevi uma palavra, não li uma linha, deixei meus problemas no trabalho, minhas decepções, meus medos, minhas preocupações de folga este dia.

Sei que ninguém tem a ver com minha rotina de fim de semana, mas quis escrever tudo isso aqui para dizer que há momentos em que merecemos férias. Férias de nós mesmos. Temos que aceitar os convites de amigos, dos amigos de verdade, daqueles que gostam de estar e conversar com você, daqueles que compartilham suas vitórias e se solidarizam com seus problemas. Me senti muito recompensado neste sábado. Me senti afagado por gente de que gosto muito, que têm um espaço especial em minha vida. Olhando para estas pessoas neste sábado, fiquei revigorado, renovado em minhas forças para enfrentar muitas segundas, terças, quartas em que eles não estarão tão perto.

Valeu, queridos. Este post é para vocês: Rossana, Marina e Pablo. Valeu mesmo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O poder da palavra



Meu orientador no doutorado da UnB me disse, em uma de nossas reuniões, uma frase que nunca vou me esquecer: "Rogério, você nasceu para escrever."

Confesso, cá com minha vaidade, que adorei ouvir isso dele. Não por Sérgio Porto ser meu orientador, mas pelo fato de meu orientador ser Sérgio Porto, um homem que participou da histórica redação da revista Realidade.

Venho pensando muito sobre o que significa escrever por estes dias. E tenho pensado na responsabilidade que é escrever. E ando escrevendo muito. Escrevo no jornal, escrevo minha tese, escrevo neste blog. Escrevo, escrevo, escrevo...

Quando você escreve o que deve, as pessoas leem. Quando escreve o que não deve, elas leem também. Tenho escrito coisas que devo e que não devo escrever.

Quando escrevo o que devo, recebo elogios e fico muito realizado por fazer algo que foi bom não só para mim. Por um artigo sobre política que publiquei no jornal em que trabalho, recebi um afago da amiga blogueira Deire Assis, uma carta muito elogiosa de um leitor que não conheço, que se disse "ávido por meus textos", comentários positivos de colegas. Foi ótimo.

Quando escrevo o que não devo, acabo machucando quem não quero. E isso acontece porque as palavras têm força, muita força. E as palavras escritas são as mais fortes de todas. No meu último post, fiz críticas a alguns comportamentos, refletindo sobre a vida. Mencionei comportamentos que não aprovo e condutas que eu acho corretas. Comportamentos estes que são, em grande parte, meus comportamentos, infelizmente. Condutas estas que, infelizmente, ainda não são as minhas.

Mas acabei falando também de posturas que não aprovo nos outros, não como uma agressão endereçada. Uma pessoa que prezo muito, infelizmente, entendeu assim. Não sabia que a pessoa que se sentiu atingida leria, não foi algo premeditado, uma ofensa planejada. Foi um desabafo, um colcha de retalhos de pensamentos esparsos. Achei que esta pessoa nem lia meu blog. Como o que foi interpretado como ofensa foi publicado aqui, quero, também aqui, e também por escrito, pedir desculpas, agora que sei que este blog tem um leitor a mais. Foi mal. Errei a mão. Perdão.

Manejar mal as palavras me deixam triste, manejá-las bem me fascina não só quando eu acerto, mas quando quem está à minha volta, e que sabe escrever tão bem, também acerta. Neste blog há links para alguns destes profissionais da palavra que tanto admiro. Lendo-os, aprendo demais.

Quando leio o blog da Deire Assis, por exemplo, eu a vejo falando, só que de uma maneira mais poética. Ela se abre, se mostra, deixa que entremos, por meio da palavra, em seus pensamentos, em suas reflexões sobre o mundo, em suas dúvidas, em suas opiniões. Uma delícia.

Opinião, aliás, que um jovem colega de redação sabe dar tão bem. Rodrigo Alves é um daqueles caras que a gente tem de ler antes para não sair por aí falando bobagem sobre um livro, um filme. Sua visão é aguçada e enriquecedora.

Meu afilhado de casamento Pablo Alcântara já trabalha a palavra de outra forma. Cronista de mão cheia, sabe passar o inusitado do cotidiano para uma linguagem leve, divertida, instigante, que nos leva a pensar sobre o que diabos é a humanidade, meu Deus!!!!

Sou professor de jornalismo e muitos alunos, os mais interessados, depois que descobrem que trabalho em um grande jornal, dão uma olhadinha no que escrevo. Os que não gostam, claro, não dizem. Os que gostam, comentam.

Um desses alunos, um dos mais aplicados que já tive, sempre comenta comigo algumas matérias que faço mas, inevitavelmente, depois de dizer algo sobre o que escrevi, elogia outra matéria, a que de fato lhe interessou e lhe reforçou o desejo de ser jornalista. Ele é fã de carteirinha de Vinicius Sassine. Aceito a preferência, já que compartilho com ele desta admiração.

E conheço tantos outros que sabem transformar a palavra em alguma coisa que talvez nem possa ser definido por... palavras. Sempre admirei o trabalho de profissionais como Malu Longo, como Valbene Bezerra, como Renato Queiroz (o senso de humor mais refinado da redação), de Carlos Eduardo Reche e sua ética ao lidar com fontes tão pouco éticas. Grandes professores!

Os erros que cometemos, quando escrevemos o que não devemos, fazem parte deste difícil exercício de lidar com um bicho arisco chamado palavra. Os tombos são inevitáveis. Temos que levantar e tentar escrever algo melhor. É isso que estou tentando fazer aqui.

Eu não nasci só para escrever, como disse meu orientador. Acho que também escrevo para viver. E escrevo para poder conviver com tanta gente que escreve tão bem.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Daquilo que eu sei...

Daquilo que eu sei...

... a vida não é fácil, os problemas se acumulam e os desafios não param de aparecer, mas há momentos que podem, sim, ser maravilhosos...

... a amizade ainda é o melhor sentimento humano que existe...

... nós escolhemos nossos amigos, assim como nossos amigos nos escolhem. É, inevitavelmente, uma via de mão dupla. Não adianta escolhermos quem não nos escolhe. É perda de tempo e o melhor é desencanar, investir em quem realmente lhe quer ao lado...

... a idade traz um pouco mais de serenidade, mas não muda temperamentos não...

... as pessoas estão ficando mais intolerantes...

Daquilo que eu sei...

... a atenção é o melhor bálsamo para a alma e ela se dá em pequenos e valiosos gestos, como quando alguém prepara um sanduíche natural e compra um suco de uva pensando em você, para que você lanche bem...

... o desprezo e a negligência são os piores sentimentos que podemos endereçar a outra pessoa, piores que o ódio, piores que a ira...

... é preciso separar o joio do trigo e não ficar com o joio...

... é necessário desenvolver o dom de ouvir e observar, falando e opinando menos...

... não temos que julgar as pessoas, jamais. Não sejamos tão presunçosos...

... devemos procurar ser transparentes, deixando claro quando gostamos e/ou não suportamos alguém. Se gostamos, que demonstremos. Se não gostamos, que também demonstremos. Nada de dubiedades, nada de diplomacias exageradas, nada de risinhos frouxos para quem não suportamos. Se quem não nos suporta nos sorri falsamente, problema de quem ri sem sentir graça, sem ter a verdadeira alegria...

Daquilo que eu sei...

... há mais gente pronta a atrapalhar do que a ajudar, mas os que ajudam costumam ser mais competentes e fortes do que os que só pensam em prejudicar...

... não é bom sonharmos demais, ficarmos empolgados além da conta, mas também não devemos desanimar de nossos projetos. Eles são nossos...

... a família, por mais problemática que seja, por mais complicações que cause, por mais preocupações que gere, ainda é a família, porto seguro nos momentos mais incertos...

... devemos ser otimistas, sim, mas também temos o direito à melancolia, ao choro de tristeza, aos pensamentos sombrios, à fossa...

... perdemos muitas oportunidades de sermos felizes quando não aproveitamos um momento de alegria, uma companhia agradável, um papo furado. Nos falta muita sabedoria no cotidiano...

... sei que nada sei? Nada disso! Daquilo que eu sei, sei por viver, por padecer, por errar e acertar. Daquilo que eu sei, não dispenso nada. Só assim, quem sabe, saberei mais...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ô povo feio!!!!!!

Deu na The Economist:
"O Senado brasileiro é uma Casa de Horrores"
Alguma Dúvida?












terça-feira, 7 de julho de 2009

Estou sentindo falta


Estou sentindo falta de uma reportagem mais aventureira.

Uma reportagem que necessite apurar os dados, in loco, com pessoas desconhecidas, totalmente anônimas, que me façam aprender coisas que eu jamais pensei conhecer.

Uma reportagem em que seja possível um legítimo exercício das possibilidades do texto.

Uma reportagem que possa surpreender os leitores pela abordagem, pela maneira diferente com que o assunto é tratado.

Uma reportagem que me leve para longe onde eu possa falar de coisas que nos são tão próximas.

Uma reportagem que não seja burocrática, que não seja feita às pressas, que não repita fontes.

Uma reportagem que fuja da agenda e que me faça relê-la com prazer no dia seguinte.


Estou sentindo falta...

terça-feira, 30 de junho de 2009

65 Vezes


Foram 65 vezes.

No último um ano e meio, fui e voltei de Brasília 65 vezes para assistir aulas na UnB.

No primeiro semestre, ia e voltava duas vezes por semana: ia na terça à noite, voltava na quarta depois do almoço; ia na quinta à noite, voltava na sexta, depois do almoço.

No segundo semestre, ia no domingo à noite, voltava na terça depois do almoço.

No terceiro semestre, ia no domingo à noite, voltava na segunda, depois das 10 da noite.

Indo e vindo, indo e vindo.

Ontem, 29 de junho, assisti minhas últimas aulas do doutorado.

Acabou o vai-e-vem semanal. Nem acredito.

No início do ano passado, muitos, muitos, bem ou mal intencionados, preocupados ou não comigo, amigos, colegas de trabalho, meros conhecidos fizeram um coro numeroso: "você não vai dar conta."

Quando eu chegava à redação, muitos diziam: "como você está cansado, não vai aguentar."

Mas fui levando, fazendo ouvidos moucos. Não que me sentisse inatingível, mas aqueles comentários passaram a ser não um problemas, mas um estímulo a mais.

Conseguiria sim, nem que fosse para calar a boca de todos.

Quando muitos perceberam que sim, eu estava sobrevivendo, deixaram de agourar, talvez por medo de queimar a língua. Talvez.

Mas eles, no fim das contas, são os que menos importam neste momento.

Importam, na verdade, aqueles que nunca deixaram de me apoiar.

Vai aqui um agradecimento especial a duas amigas especiais: Karla e Veruska. Elas abriram seus apartamentos, abriram mão da privacidade de pessoas que moram sozinhas, para me receber toda semana, sempre com um lanche, um bom papo, palavras de encorajamento. Às duas, nunca terei como agradecer.

E nunca terei, também, como agradecer às rezas de meus pais todos os dias em que eu pegava a estrada: proteção contra acidentes, contra motores pifados, contra radiadores furados, contra pneus estourados, contra todo e qualquer empecilho no caminho.

As rezas funcionaram perfeitamente. Nada, em nenhuma vez, ocorreu. Na única vez em que o carro pifou, ele pifou depois que cheguei em Goiânia, na frente da casa de outra amiga querida, Amanda, no dia uma caroneira. E caronas foram mais que caronas nesta jornada: foram companhias preciosas em mais de duas horas de solitária viagem, sempre com as mesmas paisagens, os mesmos marcos, os mesmos buracos da estrada.

Sustos foram muitos. Em Abadiânia, à noite, precisei, num dia, desviar de uma mulher que atravessou a rodovia em sua bicicleta; num outro, de um cavalo que cruzou a BR na maior tranquilidade do mundo. Em uma vez, atropelei um cone de uma obra mal sinalizada perto de Alexânia. Outra vez, levei uma fechada fenomenal no trevo do Daia, em Anápolis, de uma carreta de incontáveis toneladas.

Confesso aqui que cochilei ao volante em uma de minhas vindas, já chegando a Goiânia, numa pescada que me valeu o maior dos sustos e uma guinada violenta no volante. Mas somos preparados para os sustos quando eles são apenas isso: sustos.

Nessas minhas idas e vindas, vi um motoqueiro morto, atropelado em Teresópolis, e um outro, dentro de Brasília, com o corpo já coberto por jornais. Vi carretas com as rodas para cima, carros capotados depois de surpreendidos por aquaplanagem.

Foram 65 idas e 65 vindas. Foram, ao todo, 28.600 Km percorridos. Seria como percorrer seis vezes a distância entre Porto Alegre e Manaus, ou percorrer três vezes a distância entre São Paulo e Johanesburgo, na África do Sul, ou duas vezes a distância entre a capital paulista e Nova Dheli, na Índia. Nunca pensei que dirigia isso tudo na vida.

Mas dirigi. Estou fazendo este post não para me gabar, mas para desabafar, para comemorar com os que nunca duvidaram desta empreitada, e para jogar na cara de quem duvidava que não devemos duvidar das pessoas, ainda mais das que não conhecemos bem.

Muitos que me apoiaram leem este blog e a eles eu agradeço.

Alguns que duvidaram também leem este blog e a eles eu também agradeço, mas de forma bem diferente, bem menos fraterna. Com os primeiros quero compartilhar aqui minha alegria. Com os outros, não quero compartilhar nada, apenas informá-los de que estavam errados.


sábado, 6 de junho de 2009

Voltar das férias é...

Voltar das férias é retomar velhas rotinas que você jurou que tentaria abandonar
Voltar das férias é ter menos tempo para você mesmo
Voltar das férias é tentar se encher da esperança de que é o melhor a fazer
Voltar das férias é deixar de dormir um pouquinho à tarde
Voltar das férias é reencontrar objetos que você se esqueceu que tinha
Voltar das férias é rever amigos queridos
Voltar das férias é rever pessoas desagradáveis
Voltar das férias é ter menos dinheiro na conta
Voltar das férias é pensar nas próximas férias
Voltar das férias é atestar que o tempo passa depressa demais
Voltar das férias é ter um pouco de depressão por voltar das férias
Voltar das férias é encarar velhos problemas que você nunca consegue resolver
Voltar das férias é olhar colegas de trabalho com um olhar já conhecido
Voltar das férias é não ser olhado por colegas, alguns queridos e outros nem tanto
Voltar das férias é algo bom e ruim ao mesmo tempo (20% bom e 80% ruim)
Voltar das férias é cumprir um ciclo e iniciar outro

Voltemos, então, se não tem outro jeito.
E aguardar as próximas férias... E que estas sejam melhores

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tirar férias é...

Tirar férias é demorar uma semana para desacelerar o ritmo.
Tirar férias é ter tempo para fazer um tratamento dentário decente.
Tirar férias é assistir o Video Show.
Tirar férias é dormir à tarde, mais ou menos das 3 às 5.
Tirar férias é ir ao cinema no horário do expediente.
Tirar férias é escrever o capítulo teórico-metodológico da tese.
Tirar férias é ler algo a mais do que manda o professor.
Tirar férias é ver as notícias e achá-las tão distantes.
Tirar férias é atender, no máximo, duas ou três ligações por dia.
Tirar férias é planejar viagens que não dão certo.
Tirar férias é ir em viagens não planejadas.
Tirar férias é pensar no que você está fazendo da vida.
Tirar férias é convidar seus pais para almoçar em sua casa em dia de semana.
Tirar férias é dar um pouco de atenção para os amigos distantes que estão por aqui.
Tirar férias é começar fazer academia.
Tirar férias é sentir saudades do trabalho (acreditam?).
Tirar férias é prometer a si mesmo que nunca deixará de tirar férias.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um Terço


Um terço do ano já passou...

Um terço de muito estudo, de muita correria, de muito stress, de muita preocupação

Um terço de muitos bons encontros, de projetos novos e audaciosos, de consolidação de velhas amizades e de superação de mal-entendidos com pessoas com quem se tem muito mais afinidades do que divergências.

Um terço de reflexões, de depressões, de decepções, de comemorações.

Um terço de desejos não realizados, de choro num apartamento solitário, de auto-estima lá em baixo.

Um terço de elogios e críticas, de conversas difíceis e mais leves, de decisões de mudar hábitos e de adiamentos destas decisões.

Um terço de realizações e raivas no trabalho, de compartilhamento e sacrifício em sala de aula, de boas e más entrevistas.

Um terço de carência afetiva, de resignação em estar só.

Um terço de queda de cabelos, de falta de ânimo para sair do sedentarismo, de nenhuma viagem para esquecer os problemas.

Um terço de independência dos pais (enfim), de preguiça de fazer compras no supermercado, de contas de água, luz e condomínio para pagar.

Um terço de bate-papos gostosos no apê vizinho da amiga/irmã da infância, de presentes afetuosos do amigo/irmão da infância que está no Rio, de conversas/cabeça com o amigo/irmão que está nos Estados Unidos.

Um terço que não foi intenso, que foi, em grande parte, melancólico, de cansaços e apreços.

Que venha mais um terço. E ver no que vai dar.

sábado, 25 de abril de 2009

A mulher da foicinha


A leitura recente do extraordinário livro Pedro Páramo, do escritor mexicano Juan Rulfo, veio acrescentar novas reflexões a algo sobre que, não sei exatamente por quais razões específicas, tenho pensado cada vez mais rotineiramente: a morte.

A morte não apenas como o fim da vida, mas a morte como um destino inevitável, como o começo, talvez, de uma outra etapa da existência, não sei em que forma, não sei em que plano.

Nos últimos dois anos, morreram pessoas de que gostava muito. Morreu meu avô materno no ano passado, vovô Nelo, um dos maiores contadores de histórias que já conheci. Já tinha 90 anos, sei disso, mas ainda sim é um mistério ver o meu avô num caixão, imóvel. Um homem que viveu tanto, que viveu tão intensamente, que tinha tantos defeitos e tantas qualidades, ali morto.

Quando meu primo-irmão Cláudio morreu em agosto de 2007, eu não pude ir ao seu velório. Estava em Fortaleza e não havia tempo hábil para chegar a Goiânia. Talvez tenha sido melhor não vê-lo no caixão como vi meu avô porque o que me unia ao Cláudio, meu compadre, era mais que um laço involuntário de parentesco ou a cerimônia de batismo de uma de suas filhas. Não me lembro, em toda a minha vida, uma vez sequer que eu tenha encontrado o Cláudio, que era só quatro anos mais velho do que eu e muito parecido comigo fisicamente, que ele não tenha me levantado do chão, que tenha deixado de me dar um abraço forte, forte. Mesmo comigo já gordo e ele, doente, já magro. Ainda hoje não me conformo com a morte do Cláudio. Para mim, estou dois anos sem vê-lo, nos desencontrando na casa dos 20 tios que temos em comum.

Em 2007 morreram a irmã e a mãe de um amigo meu que considero um irmão. Pessoas que sempre tinham um grande sorriso no rosto quando me encontravam, que sempre queriam saber se eu estava bem, que sempre davam um jeito de preparar algo gostoso quando nossa turma de amigos íamos à chácara da família delas. Ficaram fotos de momentos muito felizes de minha adolescência e juventude, em que elas aparecem em algumas.

E morreu minha madrinha Dora, a risada mais gostosa que já conheci e o abraço mais apertado em que já fui envolvido. E morreu meu tio Antônio, depois de uma triste e penosa história de abandono por parte dos filhos dele. Morreu dona Belinha, minha ex-sogra, um poço de generosidade e atenção.

Não estou aqui reclamando dos desígnios que tiraram tantas pessoas de minha convivência. Estou apenas especulando que essas circunstâncias podem ser uma explicação para o fato de eu estar pensando tanto na morte ultimamente. Acho que é um misto de medo, curiosidade, impotência. Tudo junto. Fico temeroso por meus pais, pelas minhas irmãs, meus sobrinhos, meus amigos. Fico temeroso um pouco por mim também, mas de uma forma menos acentuada.
Vivendo muito na estrada, como estou agora, já passei vários sustos. Caminhões que lhe fecham, aquaplanagens que quase te tiram da pista, freadas bruscas para evitar acidentes. Sempre me benzo antes de iniciar essas viagens que se tornaram rotineiras. Jeito de evitar a morte? Talvez. Mas devo confessar que a morte também tem seu lado fascinante, misterioso, instigante.

Fico imaginando como será do outro lado, como será quando o coração para de bater, quando suas lembranças acabaram, seus sentimentos se extinguiram, quando suas sensações desapareceram. Como será o fim?

Fico enumerando quem poderia chorar a minha morte. Seriam poucos ou muitos? Quantas das lamentações seriam sinceras? Quanto tempo levariam para me esquecer? Será que meus amigos que estão distantes viriam para a despedida final? Por quanto tempo ficariam tristes antes de voltar a sorrir? Quantos escreveriam que teriam saudades em seus blogs?

Sei que é estranho pensar nisso, mas eu penso. Sou melancólico e talvez um dos meus maiores defeitos seja exatamente pensar demais na morte e de menos na vida. Mas temperamentos não mudam facilmente. Fazer o quê? A morte ronda a todos nós, sempre, o tempo todo. Quando menos se espera, ela ceifa. Qual será o gosto de sua lâmina?

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Vossas Excelências



Gilmar 0 x 1 Barbosa

Gilmar Mendes teve o que mereceu.

Viva Joaquim Barbosa!!!!!!!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Sobre Passarinhos




Fotos: Nunes D'Acosta


Fiz uma matéria sobre passarinhos.
Para muitos, muitos colegas, e bota muitos colegas nisso, esta é uma matéria absurda, irrelevante, um jeito Poliana de ver a vida. Essa crítica poderia ter vindo de mim alguns dias atrás. Torci o nariz para a pauta, mas depois fui descobrindo que nos pássaros pode estar o que falta a uma boa parte do jornalismo atual: um tantinho de poesia.
Não se faz mais poesia nos jornais. Nosso gênero preferido é a tragédia, como se a vida fosse tão somente trágica e nunca, jamais, nem por meros instantes, poética.
O jornalismo deve tentar registrar o mundo em que está inserido e não inventei os passarinhos de Goiânia. Eles estão por aí, assim como os bandidos, os pedófilos, os políticos corruptos, as menores prostituídas e os desempregados. Todos eles constituem a pluralidade do mundo.
Os passarinhos me renderam elogios pelo lindo trabalho gráfico feito por André Rodrigues, que também gostou de lidar com os seres alados que quase nunca são notícia.

O mundo ficou melhor com a matéria sobre os pássaros? Não, assim como também não ficou melhor com a matéria sobre o sequestro, sobre o desvio de verbas públicas, sobre os estragos das chuvas. O jornalismo não deve se arvorar à misão de deixar "o mundo melhor". Isso é bobagem, retórica de quem acha que tem esse poder, mesmo não fazendo questão nenhuma de usá-lo, caso, de fato, ele funcionasse.

Mas o mundo também não ficou pior. Quem sabe alguém, lendo a matéria, em algum minuto de seu dia, resolva olhar para cima para tentar ver um pássaro. Se fizer isso, terá deixado de lado, por um instante, a preocupação com a crise, com a violência, com a desonestidade alheia. Já terá valido a pena escrever uma matéria tão desimportante.

quinta-feira, 26 de março de 2009

A varanda lá de casa

Há muitas vantagens de se morar em casa e em apartamento.
Passei mais de 30 anos de minha vida morando em uma casa, indo ao quintal, sempre ao rés da rua. Agora moro no 12º andar, cerca de 35 metros acima do chão. É muito, muito alto.
Uma das vantagens de virar morador de apartamento é a varanda. Quando comprei meu apê, a primeira coisa que vi era se tinha uma boa varanda. Tinha que ter. Adoro minha varanda.
Nunca tive uma vista como aquela. Vejo longe, longe. À noite, o infinito parece ainda maior, com incontáveis luzes que parecem piscar o tempo todo, na cidade e no céu. Pelo menos em algumas delas sei que há vida, há gente, geralmente gente morando em casas, como eu morava.
Eles não me enxergam, me ignoram, mas eu todo dia dou uma olhada naquelas luzes. São luzes que fazem refletir sobre a relatividade da vida, sobre como as coisas podem ser vistas em diversos ângulos, em vários aspectos.
Não me sinto superior na varanda lá de casa. Ao contrário, sinto-me pequeno, mínimo. Não posso voar, não posso ver além das luzes, não posso quase nada, na verdade. Posso apenas ficar na varanda, pensando em tudo o que eu não posso fazer.
Minha varanda é meu espaço predileto, onde está a minha brisa, onde fica o meu esquecimento de coisas incômodas, onde faço minhas reflexões.
Lá, faço o que melhor gostaria de fazer: observar. Estou tentando ficar mais quieto, só vendo, falando menos. A varanda é meu treino. Uma varanda nua, sem rede, sem plantas, sem cadeiras de jardim. Só a varanda e eu, em pé, encostado em sua grade, a escrutinar vizinhos próximos e luzes distantes. A escrutinar pensamentos próximos e sonhos distantes.
A varanda lá de casa (melhor dizendo, apartamento) é minha conselheira.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Vontade de dormir


O cansaço faz parte da rotina de quase todos hoje em dia.

Na minha rotina, ele parece nunca ter deixado de existir.

Devo confessar aqui, a quem de vez em quando dá uma olhada neste desatualizado blog, que estou cansado.

Quero dormir.

Dormir para não acordar tão cedo.

Dormir para esquecer os problemas e as obrigações.

Dormir para que meus desafios e os de quem a gente gosta simplesmente desapareçam.

Dormir para deixar as preocupações no nível do sonho.

Dormir para não me importar com horários e afazeres.

Dormir para não me lembrar de meus defeitos e covardias.

Dormir para fechar os olhos e relaxar.

Dormir para "alimentar de horizontes o tempo acordado de viver"

Cansei. Quero dormir!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Escada Rolante



Um pedaço de metal dentado. Um pedaço de metal dentado subindo ou descendo atrás de outro pedaço de metal dentado. Eles nascem do nada e somem no nada. Um após o outro. Um após o outro. Um após o outro passa um homem atrás de outro homem. E uma velha, e um menino, e uma mulher insegura que quase cai de cima do pedaço de metal dentado. Eles surgem do nada e somem no nada. Um após o outro. Um após o outro. E quem repara no metal dentado? E quem percebe a velha que subiu no metal dentado com suas juntas doloridas, seus cabelos brancos de tristezas e frustrações? E quem repara no homem imponente e bem vestido que está sobre o metal dentado, subindo, meio suspenso no vão, pensando voar nesse espaço que divide com uma velha de juntas doloridas que desce em direção contrária, com suas tristezas e frustrações que tinta de cabelo não pode disfarçar?


Vem o menino arteiro, que se soltou da mão da mãe relapsamente escandalosa, que grita – Thiaaaaaaaaaaaaaaago! – e chama a atenção do homem que parecia voar sobre um mísero pedaço de metal dentado que se repete. Um metal que tem fome do dedinho impertinente do Thiago, o menino que um dia vai subir sobre um pedaço de metal dentado e imaginará estar voando. Mas a mãe relapsamente escandolosa, que um dia será uma velha de juntas doloridas e cabelos de uma brancura triste, acode antes que o metal dentado faça uma vítima e desconte em Thiago sua ira de ser pisado por tantos homens voadores, mães relapsas e velhas tristes e doloridas todos os dias.


Nenhum deles olha para o metal dentado, a não ser quando sobem e quando descem, menos Thiago, que acabou caindo na descida – não tem jeito, ele teria mesmo que se machucar com uma mãe tão relapsa assim. Mas quem é Thiago, coitado?! Ainda uma criança. Suas juntas ainda não doem, seus cabelos ainda estão escuros, suas grandes frustrações e tristezas resumem-se a não poder brincar mais com os sucessivos pedaços de metal dentado que transportam pessoas doloridas, relapsas e que pensam voar. Ele é o único que não voa, que não dói, que não negligencia entre um pedaço de metal dentado e outro. É o único ali que percebeu o metal dentado, mas que não reparou na irresponsabilidade da mãe, nas dores da velha, na arrogância do homem voador. Mas o metal dentado percebeu e percebe cada um que nele pisa, que sobe e que desce, num movimento constante de velhas, homens, mães e meninos.


A velha, o homem, a mãe e o menino sumiram e agora vem a jovem vendedora da loja de artigos esportivos que vê, ainda do alto, já pisando no pedaço de metal dentado que surgiu à sua frente, um rapaz bonito e forte, de óculos escuros, que sobe em direção contrária. Ele aprecia seu próprio corpo atlético, arruma a manga da camisa apertada que vestiu e que salienta um bíceps artificialmente inflado. A moça desce e seu olhar cruza com o do rapaz fortão, mas o olhar dele está direcionado à coroa enxuta que vem atrás da vendedora, em um vestido estampado meio esvoaçante. Repara bem na roupa, nas pernas torneadas, mas logo se vira para o outro lado do vão. São vidas em três pedaços de metal dentado que compartilham o ordinário hábito de esperar subir e descer, movendo-se imóveis.


Daqui a pouco, a vendedora vai se encontrar com a irmã relapsa e seu sobrinho Thiago, o menino mais encapetado que conhece. A mulher de vestido marcou encontro com sua mãe de juntas doloridas e cabelos brancos de tristezas e frustrações. O rapaz forte também tem um encontro, só que com seu namorado, um homem que parecia voar instantes atrás. Quanto ao pedaço de metal dentado ele vai continuar a transportar inocências, segredos e incongruências. Para cima e para baixo. Um após o outro. Um após o outro.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Em memória de Pixaim



Rute e Patrícia eram amigas e tinham uma paixão em comum: gatos. Rute era mais discreta em sua preferência. Mantinha uma gatinha vira-lata em seu apartamento. Uma gatinha já idosa, que não era mais atraente para os gatos de rua que espreitam o telhado alheio. Já Patrícia tinha uma verdadeira legião de gatos. Era gato preto, gato siamês, gato persa. Nove gatos e gatas ao todo. Bastava abrir uma gaveta de qualquer móvel de sua casa para se deparar com um monte de pêlos ronronando lá dentro. Apesar de sofrer de asma e dos apelos do namorado, Patrícia não se desfazia de nenhum de seus felinos.
Um dia, Rute e Patrícia combinaram de colocar o papo em dia. Rute sugeriu um lugar que um amigo havia recomendado. E lá foram
E lá trabalhava Marilânio, mistura de Maria e Irânio, seus pais. O rapaz fazia sucesso com uma atração gastronômica deliciosa. Uma atração que guardava um terrível, um horrendo segredo.
Já adivinhou, não é leitor?
Sim, Marilânio servia espetinhos de gato. De gato, mesmo! Não era falta de caráter do pobre homem. É que quando ele vendia alcatra, picanha, filé com bacon, seu negócio ia de mal a pior. Tão de mal a pior que um dia ele já não tinha mais dinheiro nem para comprar coxão duro. Um dia, não teve dúvidas. Atraiu o Pixaim e... O Pixaim era um gato gordo, de cor indefinida, que vivia rondando a casa de Marilânio. De tanto dar sopa, virou espeto. Marilânio passou-lhe a faca e o serviu aos clientes.
Pixaim fez o maior sucesso. O pessoal adorou, lambeu os beiços sem saber que estavam comendo gato por boi. Marilânio, então, aproveitou a onda. Começou a caçar gatos em seu bairro, depois em regiões mais afastadas da cidade. Não podia ver um gato que dava um jeito de levá-lo para a brasa.
Naquele dia, ele estava chateado. Havia brigado com a namorada e o dono do local onde ele trabalhava queria uma comissão maior. Já tinha tomado umas latinhas para afogar as mágoas e toda vez que bebia, falava demais. Quando Patrícia e Rute chegaram para provar um espetinho, Marilânio já estava de fogo. As amigas até pensaram em ir embora, mas decidiram ficar quando, por um descuido, Marilânio pediu: “Não vão, experimentem o melhor espeto de gato da cidade.”
Elas se entreolharam e uma fúria justiceira tomou conta de ambas. Pergunta vai, pergunta vem, Marilânio já chamando urubu de meu louro confessou que sim, matava gatinhos para fazer espetinhos
Coitado do Marilânio... Mal sabia ele o que lhe aguardava.
Rute e Patrícia simplesmente espancaram o vendedor de espetinhos. Deram tapas, murros, pontapés. Morderam suas duas mãos, quebraram três dedos do pé e uma costela do coitado. Arranharam seu rosto, fizeram-no morder a língua, bambearam em sua boca um pivô que ele tinha posto recentemente, à custa de 40 ou 50 gatos de rua. Elas descarregaram em Marilânio um ódio quase materno. Marilânio ficou todo estropiado e só não foi pior porque alguns transeuntes intervieram no momento em que Patrícia e Rute, cada uma com um espeto na mão, decidiam como iriam usá-los no churrasqueiro.
Nunca mais Marilânio buliu com gato algum. Mudou até de ramo. Agora vende sabão de porta em porta. O sabão Pixaim. E os cachorros da vizinhança já começaram a sumir.