terça-feira, 8 de julho de 2008

Sinuca de bico



Adoro jogar sinuca e bilhar (sabia que há diferenças entre os dois?) Por isso, fiz essa crônica descrevendo uma partida de bilhar. Espero que gostem.

A arte da guerra... No bilhar

Os oponentes se encaram. Olhos nos olhos e o único pensamento possível: vencer.
"Vamos jogar uma partidinha?"

É hora de escolher as armas do duelo. O taco mais reto, com a cabeça em melhores condições, no peso certo. De preferência, aquele de estimação, que tem uma marquinha na madeira para diferenciá-lo dos demais.

As bolas são postas no pano verde. O barulho do marfim se tocando é a senha para os curiosos se aproximarem.

É hora de espalhar as bolas e tentar matar alguma na primeira tacada, forte e cheia de efeito. Ás colado na tabela, o jogo começa. São 14 bolas para morrer.

Com técnica, o jogador que saiu mata a 2 azul no canto. E já está de olho na 14 verde que ficou reta em outra caçapa. É hora de estudar o jogo. Matar descolando a 10 que está na tabela para pegá-la no meio. Mais uma bola morre, e outra. Com efeito, sobe o bolão e pega a 4 roxa lá em cima, ajeita a 6 verde no meio e rola a 8 preta para a boca. Ótimo início. Só tem uma mal posicionada, a 12 roxa, entre duas bolas rosas, a 5 e a 13, do adversário. É hora de seu oponente mostrar a que veio.

Ele começa com uma bola difícil, longa, mas a 3 vermelha entra na caçapa de metal fazendo barulho. Com técnica, ele deu uma "paradinha" no bolão, deixando a 7 marrron reta no meio. Matando-a com meia-força, descola a 11 vermelha, ajeitando-a no outro canto. A mata com força pegando "na bunda" a 9 amarela. Outra bola morta. É hora de rolar a 15 marrom para a boca e deixar o adversário abrir o jogo.

É a arte da guerra. Todas as jogadas são minuciosamente estudadas. Os dois precisam se defender. Em torno da mesa, eles se movem como dançarinos, numa coreografia não-ensaiada. A forma como seguram o taco mostra o nervosismo. Mãos suadas exigem o uso do giz branco.
Quem mata as pares deixa seu 8 na boca e bate, de leve, no 12, tentando abrir só sua bola. Cola o 5, mas deixa o 13 para o adversário. Ele agradece, mata a bola e rola o 5 para a boca. Já são três caçapas ocupadas. Em jogada espetacular, quem mata as pares corta a 12 por fora, matando-a no meio. Mas o bolão acaba morrendo também. É suicídio e o jogo é castigado. Sai a menor bola do oponente, a 5 que está na boca. Agora, resta o 15, que ele mata com efeito, esbarrando no ás. Mas ele fica no rumo da caçapa onde está o 8. É hora do prego.

Devagarzinho ele estaciona o bolão atrás do ás. Ao adversário resta matar o 8 sem triscar na bola amarela. Se cegar, perde o jogo. Depois de muitos cálculos, a única saída é fazer o bolão correr toda a mesa, bater em três tabelas e matar a bola. Jogada complicada, quase impossível. Mas com perícia, ele a executa com perfeição. Agora, quem matar o ás, ganha. O combate terá um vencedor.

Meia hora depois, os dois já estão tomando uma cervejinha juntos e falando de futebol. Quem ganhou aquela guerra? Que guerra que nada. Era só uma partida de bilhar.

3 comentários:

Paula disse...

Eu gostei! E olha que eu nem sabia que tem diferença e nem que as bolas são de marfim. Hehehe. Beijo, Rogério!!!
Paulinha.

Deire Assis disse...

Bravo!

Jogar contigo é tão bom quanto ler uma crônica sua sobre uma partida? Então vâmo embora combinar.

Belo texto!

Bjo!

Rodrigo Alves disse...

Consegui sentir toda a tensão da cena e depois o relaxamento natural, rs. Bem legal!