Ficção é uma coisa, vida real é outra. Para quem conhece o conto de Poe, porém, é inevitável relacioná-lo com a ação do serial killer de Luziânia, que matou brutalmente seis jovens. No caso de Poe, transparece a genialidade do autor. No caso de Luziânia, esse argumento não pode ser empregado. O assassino confesso não tem QI acima da média, não é um mestre do ardil, não é um homicida refinado. É um homem que parece ter agido por impulso, não se preocupando em se desfazer das provas que o levaram à prisão. Ele agiu em sua vizinhança apenas uma semana depois de sair da cadeia por violentar menores. Não fugiu da cena de seus delitos, deu o celular de uma das vítimas às irmãs.
Por quê a prisão demorou tanto? Pelo que sei – de conversas com experientes policiais e investigadores – o primeiro passo para se elucidar um crime é encontrar seus padrões. Neste caso, eles eram as características das vítimas (adolescentes do sexo masculino) e o fato de os desaparecidos morarem no mesmo bairro. Não seria mais ou menos óbvio que a vizinhança fosse investigada? Não teria sido básico fazer um levantamento, saber se alguém estranho havia chegado ao setor naquele período? Desta forma, não seria grande a chance de um homem com o perfil de Adimar ser um suspeito? Ou será que essa investigação básica não foi feita desde o início, já que rapazes pobres desaparecem todo santo dia na região?
Este episódio necessita ser melhor explicado do ponto de vista da Justiça, da psiquiatria forense e da polícia, que demorou muito para pegar um assassino que morava próximo às vítimas, tinha antecedentes conhecidos e usou uma bicicleta em seus crimes. Se um homem com esse perfil consegue cometer seis homicídios sem ser capturado, o que esperar se um psicopata mais esperto e com mais recursos começar a agir?
Artigo publicado no jornal O Popular, em 14/04/2010
Um comentário:
Gostei muito... Talvez faltem aos nossos policiais um pouco de leitura, um pouco de humanidade, um pouco de tudo. Sumido!
Postar um comentário