quarta-feira, 17 de março de 2010

És responsável




Vou citar aqui uma frase clássica de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry:
"És responsável pelo que cativas".

Esse livro, injustamente ligado às misses, é uma aula de vivência. Não que tenhamos de criar mundos, pequenos planetas, com vulcões e rosas. É exatamente o contrário disso. O Pequeno Príncipe vivia a sua vida, como nós devemos viver a nossa.
Tive a crise dos 30 e agora, aos 33, já me sinto mais à vontade para analisar algumas coisas que nos fazem amadurecer. Ao me tornar balzaqueano, tenho a impressão de ter cruzado um limiar, em que o faz-de-conta ficou definitivamente para trás e em que as conquistas e as perdas vão se tornando mais definitivas.

Depois que completei os 30, passei por algumas experiências estranhas, fabulosas e tristes.

Viajei ao Havaí e à Europa, comprei meu apartamento, me tornei doutorando na UnB, me vi como professor de verdade, tomei decisões drásticas em meu trabalho, fui morar sozinho, publiquei um livro, adquiri meu primeiro carro zero. Conquistas materiais que fazem a auto-estima melhorar e são alentos em um cotidiano em que são tantas as derrotas.

Tudo isso foi muito bom, mas o ato de crescer trouxe, em contrapartida, questões difíceis de encarar. O faz-de-conta acabou mesmo. As amizades que tinham de se solidificar, se solidificaram. As que não tinham, não. Percebi que é pretensioso querer agradar a todos e acreditar que todos gostam de você. Ou que ao menos lhe respeitam. Isso não é verdade. E a culpa também é sua, como deve ser sempre. "És responsável pelo que cativas."
Depois dos 30, tive muitos momentos de sentimentos contraditórios, de sensações incômodas. Depois dos 30 amadureci um pouquinho, mas o suficiente para perceber que há em mim um pouco de cada coisa. Sempre digo a mim mesmo que venho me tornando uma pessoa pior, mas talvez eu apenas esteja ficando mais esclarecido sobre quem, de fato, sou. E isso com a ajuda dos amigos e também dos desafetos.

Antes dos 30, pensava nunca ter sentido inveja. Mentira. A inveja nos acompanha a vida toda. A diferença é que quando se vai ficando mais velho, ela fica curtida e estoura em uma expressão que não gostaria de estampar no rosto, em um pensamento mesquinho que não deveria ter. A inveja é onipresente, como já disse Zuenir Ventura. E ela pulula, adubada pela vaidade, a alheia e a nossa, combinadas.

Antes dos 30, pensava em ganhar o mundo. Ainda penso, mas sei que não será mais o rapaz inocente que poderá fazer isso e sim o homem com suas cicatrizes, seus pesos-extra.

Antes dos 30, acreditava que poderia superar tudo. Não se pode superar aquilo que o atinge mais fundo. Não se pode superar certas frustrações, certos equívocos, alguns desprezos e muitas ofensas. Não se pode deixar de ter algum tipo de rancor depois dos 30, porque o perdão completo, aquele incondicional, faz parte de um outro mundo, talvez o do Pequeno Príncipe.

"És responsável pelo que cativas." Sei que tenho o mérito de ter os amigos maravilhosos que tenho e sei que compartilho a culpa de não ter conquistado muitas das pessoas que gostaria. Sei que alimento, à minha maneira, o ódio e o fel que certas pessoas sentem por mim. Sei que não passo incólume a raivas, a trairagens. Não há gente apenas boa, não gente apenas ruim. Há apenas gente. Gente como a gente.

Tenho de lidar com isso, à minha maneira torta e limitada. Tenho de ser quem me construo. O faz-de-conta acabou.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Até onde vai sua liberdade?

Você é livre?

Você é livre para escrever o que quer, onde quer, quando quer?

Você é livre para ler o que quer, saborear apenas seus autores preferidos, seus gostos particulares?

Você é livre para dizer o que pensa, para expressar seus sentimentos mais profundos?

Você é livre para definir seus horários, para selecionar seus compromissos, para escolher aonde quer ir, o que fazer, o que quer deixar para lá?

Você é livre para criticar seus amigos sem o risco de que eles deixem de ser seus amigos, para ter uma conversa franca com todos à sua volta, para debater ideias sem que a discussão não se torne uma guerra campal, com ofensas pessoais?

Você é livre para levar adiante seus projetos mais caros, para planejar todos os seus finais de semana?

Você é livre da opinião alheia, do olhar indagador do vizinho ou do colega de trabalho, da censura familiar e dos amigos?

Você é livre para tomar banho de chuva, para cantar em voz alta no banheiro, para andar pelado em casa, para colocar o pé na terra, para se balançar em uma rede em tardes preguiçosas?

Você é livre para não ligar com que "os outros vão dizer" sobre sua vida e seu comportamento?

Você é livre para realizar suas fantasias, para dar vazão aos seus desejos, para não ter remorsos?

Você é livre?

Eu não.

quinta-feira, 4 de março de 2010

And The Oscar goes to...

Christoph Waltz (Bastardos Inglórios), uma das atuações da década