Meu orientador no doutorado da UnB me disse, em uma de nossas reuniões, uma frase que nunca vou me esquecer: "Rogério, você nasceu para escrever."
Confesso, cá com minha vaidade, que adorei ouvir isso dele. Não por Sérgio Porto ser meu orientador, mas pelo fato de meu orientador ser Sérgio Porto, um homem que participou da histórica redação da revista Realidade.
Venho pensando muito sobre o que significa escrever por estes dias. E tenho pensado na responsabilidade que é escrever. E ando escrevendo muito. Escrevo no jornal, escrevo minha tese, escrevo neste blog. Escrevo, escrevo, escrevo...
Quando você escreve o que deve, as pessoas leem. Quando escreve o que não deve, elas leem também. Tenho escrito coisas que devo e que não devo escrever.
Quando escrevo o que devo, recebo elogios e fico muito realizado por fazer algo que foi bom não só para mim. Por um artigo sobre política que publiquei no jornal em que trabalho, recebi um afago da amiga blogueira Deire Assis, uma carta muito elogiosa de um leitor que não conheço, que se disse "ávido por meus textos", comentários positivos de colegas. Foi ótimo.
Quando escrevo o que não devo, acabo machucando quem não quero. E isso acontece porque as palavras têm força, muita força. E as palavras escritas são as mais fortes de todas. No meu último post, fiz críticas a alguns comportamentos, refletindo sobre a vida. Mencionei comportamentos que não aprovo e condutas que eu acho corretas. Comportamentos estes que são, em grande parte, meus comportamentos, infelizmente. Condutas estas que, infelizmente, ainda não são as minhas.
Mas acabei falando também de posturas que não aprovo nos outros, não como uma agressão endereçada. Uma pessoa que prezo muito, infelizmente, entendeu assim. Não sabia que a pessoa que se sentiu atingida leria, não foi algo premeditado, uma ofensa planejada. Foi um desabafo, um colcha de retalhos de pensamentos esparsos. Achei que esta pessoa nem lia meu blog. Como o que foi interpretado como ofensa foi publicado aqui, quero, também aqui, e também por escrito, pedir desculpas, agora que sei que este blog tem um leitor a mais. Foi mal. Errei a mão. Perdão.
Manejar mal as palavras me deixam triste, manejá-las bem me fascina não só quando eu acerto, mas quando quem está à minha volta, e que sabe escrever tão bem, também acerta. Neste blog há links para alguns destes profissionais da palavra que tanto admiro. Lendo-os, aprendo demais.
Quando leio o blog da Deire Assis, por exemplo, eu a vejo falando, só que de uma maneira mais poética. Ela se abre, se mostra, deixa que entremos, por meio da palavra, em seus pensamentos, em suas reflexões sobre o mundo, em suas dúvidas, em suas opiniões. Uma delícia.
Opinião, aliás, que um jovem colega de redação sabe dar tão bem. Rodrigo Alves é um daqueles caras que a gente tem de ler antes para não sair por aí falando bobagem sobre um livro, um filme. Sua visão é aguçada e enriquecedora.
Meu afilhado de casamento Pablo Alcântara já trabalha a palavra de outra forma. Cronista de mão cheia, sabe passar o inusitado do cotidiano para uma linguagem leve, divertida, instigante, que nos leva a pensar sobre o que diabos é a humanidade, meu Deus!!!!
Sou professor de jornalismo e muitos alunos, os mais interessados, depois que descobrem que trabalho em um grande jornal, dão uma olhadinha no que escrevo. Os que não gostam, claro, não dizem. Os que gostam, comentam.
Um desses alunos, um dos mais aplicados que já tive, sempre comenta comigo algumas matérias que faço mas, inevitavelmente, depois de dizer algo sobre o que escrevi, elogia outra matéria, a que de fato lhe interessou e lhe reforçou o desejo de ser jornalista. Ele é fã de carteirinha de Vinicius Sassine. Aceito a preferência, já que compartilho com ele desta admiração.
E conheço tantos outros que sabem transformar a palavra em alguma coisa que talvez nem possa ser definido por... palavras. Sempre admirei o trabalho de profissionais como Malu Longo, como Valbene Bezerra, como Renato Queiroz (o senso de humor mais refinado da redação), de Carlos Eduardo Reche e sua ética ao lidar com fontes tão pouco éticas. Grandes professores!
Os erros que cometemos, quando escrevemos o que não devemos, fazem parte deste difícil exercício de lidar com um bicho arisco chamado palavra. Os tombos são inevitáveis. Temos que levantar e tentar escrever algo melhor. É isso que estou tentando fazer aqui.
Eu não nasci só para escrever, como disse meu orientador. Acho que também escrevo para viver. E escrevo para poder conviver com tanta gente que escreve tão bem.