"Agora é hora, de alegria. Vamos sorrir e cantar. Da vida não se leva nada. Vamos sorrir e cantar."
Era assim, com um monte de pom-pons coloridos, que "as colegas de trabalho" de um certo apresentador anunciavam, oficialmente, que o domingo começava.
Domingo sem Sílvio Santos? Impossível, inconcebível, inadmissível. Gerações e gerações (aí incluída a minha) já associaram o final de semana ao mais famoso e duradouro apresentador da TV brasileira. Com aquele seu porte altivo, seu jeito particular de gesticular, sua voz bem colocada e sua indefectível risada, Senor Abravanel (nome verdadeiro do Homem do Baú) entra em nossa casa, na maior intimidade.
Domingo sem Sílvio Santos? Impossível, inconcebível, inadmissível. Gerações e gerações (aí incluída a minha) já associaram o final de semana ao mais famoso e duradouro apresentador da TV brasileira. Com aquele seu porte altivo, seu jeito particular de gesticular, sua voz bem colocada e sua indefectível risada, Senor Abravanel (nome verdadeiro do Homem do Baú) entra em nossa casa, na maior intimidade.
A imagem já está um tanto desgastada e a audiência não é mais a mesma, mas quem se importa? Sílvio mantém um certo poder hipnótico, que não é quebrado nem quando ele fala a maior das barbaridades. E olha que não são poucas. Parece que ele faz tudo de propósito, até cometer as gafes que comete. Mas em Sílvio Santos mesmo os escorregões soam naturais porque ele tem uma espécie de licença especial para dizer o que quiser. Afinal, é "O Patrão".
Há programas que ele apresentava que nem existem mais. Estão aí os antológicos Domingo no Parque, em que uma multidão de meninos desembestados disputava quase a tapa um par do tênis Montreal. E o que dizer da Porta da Esperança, em que Sílvio, numa clara demonstração de sadismo, deixava os participantes à beira de uma síncope antes de revelar que eles iam sim ganhar o tratamento médico ou o fogão novo. Sem falar do mais clássico de todos, o Show de Calouros.
"Aracy de Almeida, lá. Lá, lá, lá, lá, lá", e vinha a velha cantora, com uma fealdade incrível, que em nada lembrava a musa de Noel Rosa.
"Wagner Montes, lá. Lá, lá, lá, lá, lá", e vinha o galã do corpo de jurados, mancando ostensivamente com seu jeito de machão.
"Pedro de Lara, lá. Lá, lá, lá, lá, lá", e vinha aquele senhor fazendo uma falsa cara de rabugento, com um buquê de flores horríveis e um rabo de cavalo absurdo.
E naquele palco Sílvio recebia o humorista Ary Toledo e suas piadas impróprias para menores, fazia a propaganda do filme da Sessão das Dez – "eu não vi, mas minha mulher viu e disse que é muito bom" –, chamava o Lombardi – "é com você, Lombardi" – e entrevistava os transformistas que imitavam a Liza Minelli e a Maria Bethânia sempre com aquela perguntinha indiscreta: "você é ele ou é ela?". Também tinha um povo esquisitão, que tocava um gongo em um programa jurássico dos Estados Unidos; e ainda um quadro com ares de sobrenatural: "Isto é Incrível!!!!!!!!!"
Só depois de todos esses barbarismos que o domingo poderia acabar, na santa paz da família. O domingo tinha mesmo que acabar, afinal Sílvio Santos já havia saído do ar. Mais, só semana que vem. E na semana que vem... "Agora é hora, de alegria. Vamos sorrir e cantar."