Artigo que publiquei em O Popular em 06.10.12
Preste
atenção nesta fala. "O dinheiro foi sobra de campanha. Fazer
esse tipo de coisa é até natural dentro da cultura política
brasileira." Quem a pronunciou? Aposto que muita gente pensou
que ela é de autoria de um notório goiano, falando a respeito de um
escândalo que se encontra em julgamento no STF, não foi? Até
poderia ter sido mesmo Delúbio Soares, já que a tese de sua defesa
contra as acusações que pesem sobre ele vai pelo caminho do caixa 2
de campanha eleitoral, algo que ele já admitiu em uma CPI no
Congresso. Mas a frase não é dele e sim de outro famoso
ex-tesoureiro. Quem disse isso foi Paulo César Farias, em uma
entrevista concedida em 1995 ao repórter Roberto Cabrini e reprisada
na última quinta-feira no programa Conexão Repórter, do SBT.
Vinte
anos depois do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, que teve
PC como um de seus protagonistas, estamos, de novo, em meio ao debate
de um lamentável escândalo de corrupção envolvendo altas esferas
do poder. E os discursos se repetem, como um mantra interminável que
parece nos fazer estacar e, em alguns momentos, retroceder. Algo que
pode ser constatado em vários outros exemplos. Quer ver? Numa
entrevista, um importante político afirma: "Havia e há compra
de votos. Eu não posso negar que pode ter havido essa compra, mas
não fomos nós, o governo federal. Nós não nos envolvemos."
Quem deu essa resposta? Lula, quando descoberto o esquema do
Mensalão? Não! Foi Fernando Henrique Cardoso, em uma entrevista ao
site da revista Veja, em 2009, rebatendo as suspeitas de que ocorreu
barganhas pouco republicanas para que a emenda constitucional que
permitiu a reeleição fosse aprovada pelo Congresso.
Quer ver
como essas repetições vêm de longe. Pense na frase: "Essa
imprensa golpista quer desestabilizar o governo!". Não parece
coisa de petista reclamando da mídia por achar que grandes veículos
de comunicação queriam derrubar o governo Lula? Pois essa história
de imprensa golpista vem desde Getúlio Vargas, quando, lá sim,
havia uma guerra entre o presidente e donos de jornais, como Carlos
Lacerda, que queriam ocupar a sua cadeira. Sem entrar no mérito das
queixas de getulistas ou lulistas, o que enfatizo aqui é a repetição
de um discurso, o uso dos mesmos argumentos empregados lá nos anos
1950. Não é meio frustrante perceber que as discussões políticas
não evoluíram em vários aspectos em mais de meio século?
Dia
desses, a presidente Dilma foi à TV anunciar um "pacote de
bondades" para a área industrial. Com mais ou menos essas
palavras, ela disse: "Nós vamos fortalecer a industrialização
deste país para gerar emprego e avançar tecnologicamente". Não
era mais ou menos isso que Juscelino Kubitschek dizia, na década de
1950, para vender seu famoso Plano de Metas, aquele que faria o
Brasil avançar 50 anos em 5? O que aconteceu de lá para cá?
Fracassamos terrivelmente, já que as prioridades continuam as
mesmas, ou chegamos a ir adiante, mas, em algum momento, voltamos a
perder terreno, ficando para trás de novo?
Discursos
que se repetem mostram, acima de tudo, lentidão nos avanços, seja
na economia, na cultura política, na vida em sociedade. O mundo é
dinâmico e não pode estar ancorado em velhos blá-blá-blás, em
pretextos mofados que escondem deficiências, em desculpas que, de
tão usadas, já ficaram surradas, esfarrapadas. Certas ladainhas,
ninguém aguenta mais ouvir. Elas são chatas e, nos casos citados
acima, perniciosas.