terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma data


Nossa vida é dividida em datas, do dia em que nascemos ao dia em que morremos.

Neste intervalo, milhares de datas se sucedem. Dia do início do namoro, dia do casamento, dia do nascimento do filho, o aniversário dos pais e dos irmãos, o Dia das Mães, o Dia dos Pais, o Dia da Criança, o Natal, o Ano Novo, Finados, Carnaval, feriado prolongado, dia de plantão.

Somos movidos a datas.


Uma agora me surge no horizonte: 21/12

Cabalística, não?


É o dia da minha qualificação de tese de doutorado. Dia de apanhar feito um cão sarnento da banca de avaliação, dia de enfrentar as feras que sabem milhares de vezes mais que eu, dia de defender meu trabalho como se fosse um filho (mesmo que ele esteja errado), dia de ser analisado dos pés à cabeça por quem assiste à sessão pública de tortura.


Preparar o espírito para O Dia. O primeiro grande dia desta jornada de quatro anos.

Tenho agora um prazo. Pouco menos de dois meses. A vida volta a girar em torno de uma data.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dá vontade de cantar

É sempre bom ouvir os clássicos de um gênio como Tião Carreiro. Isso porque a gente sempre se identifica com alguns dos versos, com algumas das situações.
Meu momento agora é de "Navalha na Carne".
Eu, num acesso incalculável de pretensão, acredito até que a canção foi inspirada em mim.

Com tanta coisa para fazer ao mesmo tempo, com visitas a cardiologistas e riscos cardíacos elevados, dá vontade de cantar:

É muita navalha na minha carne
É muita espada pra me furar
Muitas lambadas nas minhas costas
É muita gente pra me surrar
É muita pedra no meu caminho
É muito espinho pra eu pisar
É muita paixão e muito desprezo
Não há coração que possa aguentar

Quando obstáculos inacreditáveis surgem no caminho de um projeto acalentado, dá vontade de cantar:

É muito calo na minha mão
É muita enxada pra eu puxar
É muita fera me atacando
É muita cobra pra me picar
É muito bicho de paletó
Estão de tocaia pra me pegar
A maldade é grande, Deus é maior
Abre caminho pra eu passar

Quando testam os limites da minha paciência, quando dizem coisas que não mereço ouvir, quando enchem o meu saco, dá vontade de cantar:

É muita serra pra eu subir
É muita água pra me afogar
Muito martelo pra me bater
Muito serrote pra me serrar
É muita luta pra eu sozinho
É muita conta pra eu pagar
É muito zape em cima do ás
Mas a terra treme quando eu trucar

Quando as cobranças recaem sobre o aluno e o professor ao mesmo tempo, quando a solidariedade é substituída pela agressão, dá vontade de cantar:

É muita salmoura pra eu beber
É muita fogueira pra me queimar
É muita arma me apontando
É uma grande guerra pra me matar
É muita corda no meu pescoço
É muita gente pra me enforcar
Por aí tem gente que quer meu tombo
Mas Deus é grande, não vai deixar